04 de fevereiro de 2016 Tópicos: Debates Públicos, Entrevistas

Palavra de Especialista: Paulo Rená

Para Rená, a aplicação das regras estipuladas pelo Marco Civil da internet ainda é um desafio

O advogado Paulo Rená, que atualmente integra o grupo de pesquisa Cultura Digital e Democracia, foi gestor do projeto de elaboração do Marco Civil da Internet – Lei 12.965/2014, que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. Esta semana, ele falou  sobre vários pontos importantes da Lei e revelou as principais vantagens da segunda rodada de debates em torno da minuta de decreto, que regulamentará o Marco.

“Acompanhei de perto toda a tramitação, a aprovação e a entrada em vigor da Lei. Diante disso, posso afirmar que a primeira fase de debates para a regulamentação do Marco Civil ficou dentro das minhas expectativas. O número de pessoas que participaram e o interesse demonstrado foram maiores do que nas fases que antecederam o envio do projeto, e mesmo a aprovação da Lei pelo Congresso Nacional”, afirmou.

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Sobre a regulamentação da Lei, Rená afirmou que há parâmetros tecnológicos bastante específicos que ainda precisam ser definidos de forma mais particularizada. Segundo ele, o decreto, do ponto de vista jurídico, tem essa pendência para resolver. Mas além disso, como há muita disputa de interesses, as interpretações estão creditando ao decreto a solução das controvérsias, que talvez não serão resolvidas por agora, nem mesmo pelo poder Executivo.

Para o advogado, contudo, o decreto é muito importante porque se trata de um ponto de partida para que o Estado possa atuar de forma mais proativa na implementação do que prevê o Marco Civil, ainda que existam hipóteses em que isso não seja necessário.

“Em particular, tenho grande ansiedade sobre as definições de parâmetros para que a retenção de registros observe o dever de manutenção dos dados que deve ser ‘sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança’. Essa definição é crucial para a garantia de privacidade e presunção de inocência”, esclareceu.

Sobre a relevância dessa nova rodada de debates, a partir de um texto base, Rená afirmou que, do ponto de vista democrático, a participação social é um requisito extremamente importante para que qualquer legislação possa ter aceitação e aplicabilidade.  Por isso, para ele, “explicar, questionar e conversar sobre o Marco Civil é sempre primordial para que se possam difundir as consequências daquilo que está expresso na Lei”.

Expectativas 

Após um ano de implementação da Lei, Paulo Rená afirmou que o Judiciário tem aplicado o dispositivo apenas em alguns casos e que muitas vezes o entendimento em torno do Marco Civil não é exatamente o mais adequado. Já o Poder Executivo, para ele, parece não ter reagido à aprovação, pois continua com a mesma postura anterior quando aborda as políticas de desenvolvimento do uso da internet como ferramenta social.  Já as empresas, segundo ele, continuam violando a neutralidade de rede: “parece que a regra é o descumprimento, e o respeito é que seria excepcional e dependesse de regulamentação”.

O advogado apontou ainda que há  um grande número de projetos do Legislativo que querem mudar o Marco Civil  da Internet para incluir normas ruins, o que para ele isso acaba sendo uma prova na direção contrária, ou seja, de que a Lei aprovada é boa e protege os direitos da população. “Afinal, para reduzir as garantias, seria necessário alterá-la”, reiterou.

Ao falar de um dos pontos mais importantes da Lei, a neutralidade de rede, Rená entende que as exceções, observados os requisitos já definidos na Lei, precisam ficar bem claras e devem ser estipuladas categoricamente.  Por isso, para ele qualquer nova exceção deve ser debatida e incluída na lista, considerando que o decreto se alinha a esse tipo de dinâmica. E por exclusão, o que não for exceção, cai na regra da neutralidade e deve ser respeitado, sob pena de aplicação das sanções previstas.

Não fique de fora, participe do debate!!!  Sua opinião é muito importante.

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8 comentários em “Conheça o projeto Pensando o Direito”

  1. Joseane Rocha disse:
    Quando haverá outra edição do evento?
    Os temas abordados na edição anterior foram muito estimulantes para o investimento em tecnologia da informação e comunicação.
    Joseane Rocha,
    https://www.educamundo.com.br
  2. duda disse:
    Adorei gostaria muito de participar
    De projeto
  3. Thelma Regina da Costa Nunes disse:
    Adorei,gostaria muito de participar desse participar desse projeto.
  4. Maria Sueli Rodrigues de Sousa disse:
    A página do ipea não abre desde ontem que tento. Vcs sabem informar o que está ocorrendo?
    1. Pensando o Direito disse:
      Olá, a página está com um problema técnico. Iremos prorrogar as inscrições.
  5. Antônio Menezes Júnior disse:
    Pesquisa super relevante, muito bem estruturada e indica conclusões interessantes, algumas já conhecidas no cotidiano de muitos que trabalham no ramo, e a algumas questões ainda pouco decifradas. Tive o privilégio de conhecer ao vivo, um conjunto de exposições dos próprios autores, meses atrás. Um extraordinário trabalho e produção de conhecimento. Atrevo-me apenas a sugerir que a pergunta inicial seja diferente da atual, para o futuro, e para reflexão. A pergunta inicial enseja uma relação direta entre alcances de um processo de regularização e os instrumentos jurídico-urbanísticos disponíveis, mas e as pessoas, e o conhecimento em torno deles ??? É sabido que os instrumentos em si não são autônomos, precisam ser conhecidos, discutidos, e sua implementação precisa ser ajustada a cada realidade. Portanto, melhor que a pergunta sugira o que é preciso para os instrumentos jurídico-urbanísticos tenham efetividade na realidade dos municípios.
  6. Roberto disse:
    Esse tipo de evento é realmente muito importante. alem de ser contra a corrupção, promove o desenvolvimento de idéias inovadoras.
    Aguardando pelo próximo evento

    Roberto
    https://metodologiaagil.com

  7. Humberto disse:
    Ótima atitude!!

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