A co-coordenadora da pesquisa do Pensando o Direito, Dar à Luz na Sombra e professora de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Bruna Angotti, inovou no método de avaliação de seus alunos ao mostrar todo o processo de produção de uma pesquisa científica. Para isso, este ano, ela criou grupos de estudantes para avaliar dez importantes pesquisas do Pensando o Direito.
A intenção era identificar como esses estudos foram feitos, quais os objetivos dos pesquisadores, quem foi a equipe de pesquisa, quais os métodos aplicados, os desafios encontrados e os principais resultados. “Com isso, eles teriam a dimensão de como se faz uma pesquisa”, explicou.
Segundo a pesquisadora, a escolha pelas pesquisas do Pensando o Direito se deu, por causa da qualidade dos estudos produzidos e da valorização pelo Projeto da realização de pesquisa empírica, o que permitiria aos alunos terem contato com diferentes métodos e técnicas de pesquisa conjugados.
“O fato do Pensando o Direito investir em temas atuais para auxiliar a Secretaria de Assuntos Legislativos no aprimoramento de suas atribuições de produção, reforma e acompanhamento legislativo também foi fator importante para a escolha destas pesquisas, uma vez que os alunos teriam contato com o potencial de aplicabilidade de uma pesquisa científica para uso do Poder Executivo”, contou Bruna Angotti.
Confira a entrevista!
PD – Como surgiu a ideia de criar grupos de estudante para avaliar as pesquisas do Pensando o Direito?
Buna Angotti – Sou professora de Metodologia da pesquisa jurídica – disciplina pertencente ao segundo semestre do curso de Direito da Universidade Mackenzie – e sempre tento inovar no método de avaliação, de modo a permitir que os alunos entendam o processo de produção de uma pesquisa científica. A ideia é que consigam identificar o que caracteriza uma investigação científica, como nasce a ideia de um tema, como se formula o problema e quais são os métodos e técnicas à disposição do pesquisador para dar conta dos objetivos propostos. Nos semestres anteriores, uma das atividades avaliativas cobrada da turma era a realização de uma pequena pesquisa em grupo, cujos resultados eram apresentados em seminário em classe. Apesar de ser interessante os próprios alunos desenvolverem uma pesquisa, o fato desta ser feita em curto espaço de tempo (uma vez que o curso tem duração de pouco mais de quatro meses), deixava a sensação de que fazer pesquisa era algo simples e rápido, ainda que se tentasse seguir um rigor metodológico. Foi então que tive a ideia de, nesse semestre, pedir aos alunos para fazerem o caminho oposto, ou seja, analisarem uma pesquisa já pronta, buscando identificar como esta foi feita, por que foi realizada, quais os objetivos dos pesquisadores, quem foi a equipe de pesquisa, quais os métodos aplicados, desafios e principais resultados. Assim eles teriam a dimensão de como se faz uma pesquisa. Escolhi as pesquisas do Pensando o Direito, pois sei da qualidade destas e da valorização pelo Projeto da realização de pesquisa empírica, o que permitiria aos alunos terem contato com diferentes métodos e técnicas de pesquisa conjugados.
PD – Qual foi o objetivo pedagógico ao colocar os alunos para analisar as pesquisas do PD?
Buna Angotti – O objetivo pedagógico central foi permitir aos graduandos a compreensão das fases de uma pesquisa científica desde seus objetivos iniciais até a apresentação do relatório. Ao terem em mãos o resultado final de um processo investigativo os alunos puderam entender as etapas da produção científica, as exigências e limitações metodológicas, os rigores da forma, a formação da equipe, a relevância dos temas, bem como entrar em contato com organização textual. Além disso, gostaria que os estudantes trabalhassem com pesquisas feitas por pesquisadores da área jurídica, de modo a compreender que a produção científica advinda do direito pode ter potencial transformador, bem como que o investimento em pesquisa na área tem possibilitado cada vez mais a careira de pesquisadores advindos do direito.
PD – Quais foram as pesquisas? Qual foi o critério utilizado para escolher cada uma delas?
As pesquisas que selecionei para que cada grupo pudesse escolher uma para analisar foram:
- Penas Alternativas
- Grupos de Interesse (Lobby)
- Igualdade de direitos entre mulheres e homens
- Pena Mínima
- Estatuto dos Povos Indígenas
- ECA: Apuração do Ato Infracional Atribuído a Adolescentes
- Medidas de Segurança
- Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária
- Processos seletivos para a contratação de servidores públicos
- Violência contra a Mulher e as Práticas Institucionais
- Tráfico de Drogas e Constituição
Alguns foram os critérios utilizados para escolha das pesquisas. Em primeiro lugar tive de ser cuidadosa com a escolha temática, pois os alunos estão no segundo semestre do curso de direito, e tiveram pouco contato com temas muitos específicos. Assim, optei por temas socialmente mais amplos, de interesse geral, com os quais possivelmente eles já tivessem tido algum tipo de contato na graduação, no colegial, na mídia ou em outros espaços. Em segundo lugar busquei variar nos temas de modo a permitir a dimensão de que existe uma infinidade temática na pesquisa acadêmica, sendo que tudo pode ser objeto de análise e investigação científica, contanto que sejam feitas questões relevantes e que gerem dúvidas que demandem investigação com rigor metodológico. Por fim escolhi pesquisas que mesclaram métodos e técnicas de pesquisa, para que os grupos tivessem contato com diferentes métodos e modos de conjuga-los.
PD – Quantos alunos participaram e como foi a divisão das pesquisas por grupo? Quanto tempo os grupos tiveram para avaliar as pesquisas?
Buna Angotti – Aproximadamente 430 alunos participaram da atividade, totalizando nove turmas de Metodologia da Pesquisa Jurídica. Os grupos, formados por seis a oito pessoas, puderam escolher, do rol previamente selecionado, as pesquisas com as quais gostariam de trabalhar, sendo que em algumas salas foram realizados sorteios para distribuição das pesquisas. Após um mês de preparo cada grupo teve 15 minutos para, em seminário realizado em sala de aula, apresentar o trabalho realizado. O seminário deveria conter: I) um breve resumo da pesquisa trabalhada; II) relevância do tema tratado para a atualidade; III) equipe da pesquisa analisada (em especial quem a coordenou); IV) objetivos da pesquisa; V) problema e questões respondidas na pesquisa; VI) hipóteses testadas (se houver); VII) descrição detalhada do método utilizado para se chegar aos resultado; VIII) principais desafios narrados pelos pesquisadores; IX) principais resultados encontrados; X) principal referencial bibliográfico usado. Ao final do seminário os grupos entregaram um relatório de quatro páginas sobre a pesquisa analisada, contendo uma resenha crítica.
PD – Como foi a reação dos alunos diante da proposta?
Buna Angotti – Inicialmente a maioria ficou preocupada, pois achava que seria impossível encontrar os elementos que deveriam constar na apresentação. Com a leitura das pesquisas começaram a perceber que um relatório não é um “bicho de sete cabeças” e que quanto mais bem escrito mais fácil é compreender o processo investigativo apresentado. Também puderam identificar os elementos essenciais de um projeto de pesquisa, compreendendo a importância de um bom projeto para o resultado final da investigação.
PD – Teve alguma análise, em especial, que merece destaque? Como foi a experiência em geral?
Buna Angotti – A maioria das turmas gostou da atividade, pois os alunos tiveram a oportunidade de trabalhar uma pesquisa completa, sobre temas atuais e de interesse geral. O trabalho foi bastante elogiado durante as apresentações e na avaliação final do curso, quando os alunos puderam fazer um balanço das aulas e métodos avaliativos do curso de metodologia. Seguem alguns comentários retirados das avaliações:
“O trabalho de análise da pesquisa do Projeto Pensando o Direito foi muito legal – acendeu meu o desejo de ser pesquisadora e poder compreender se e como as leis são aplicadas e propor sugestões concretas de alteração legislativa. O pulo da teoria para a prática”.
“É possível pensar fora da caixinha no direito e o trabalho de análise das pesquisas mostrou isso”
“Quero ler todas as pesquisas do Pensando o Direito – acho que me tornarei um aluno mais antenado”.
“A pesquisa sobre Violência contra a Mulher e as Práticas Institucionais mudou minha maneira de pensar violência, gênero e sistema de justiça. Quero muito lutar pela implementação da Lei Maria da Penha”.
PD – Pretende dar continuidade à proposta? Por quê?
Buna Angotti – Sim! Achei o resultado positivo e isso ficou claro no retorno dos estudantes e na qualidade dos trabalhos apresentados. O acesso ao debate aprofundado de um tema e à análise teórica advinda da coleta de dados empíricos possibilitou a ampliação dos referenciais dos alunos que acabaram de chegar do ensino médio, com pouquíssimo contato com pesquisa científica. Também, para os que se interessam por pesquisa, foi possível vislumbrarem uma carreira pouco comentada no curso de direito que é a de pesquisador. No próximo semestre pretendo, dentre outros, aprimorar a atividade, quem sabe ampliando o rol de pesquisas a serem analisadas, estimulando o contato dos alunos com a equipe da pesquisa analisadas. Vale ressaltar que em algumas classes a atividade foi realizada em conjunto com a professora Ana Claudia Torezan, de sociologia jurídica, possibilitando aos alunos trabalhar a pesquisa em diferentes disciplinas e com olhares diversos, associando com o conteúdo ministrado em aula e possibilitando uma visão mais integral e menos fragmentada da área e da formação. Essa parceira foi excelente e pretendemos ampliá-la no próximo ano.
Conheça as publicações do Pensando o Direito!
Saiba mais sobre a pesquisa • Dar à Luz na Sombra •
Ana Gabriela Mendes Braga, doutora em criminologia e professora da Unesp, coordenou, ao lado de Bruna Angotti, professora da Universidade Mackenzie, uma equipe de pesquisadores para fazer um diagnóstico que subsidiasse a produção de políticas públicas para as mais de 35 mil mulheres presas no país cujo direito de ser mãe muitas vezes é violado.
Bruna Angotti fala sobre a pesquisa Dar à Luz na Sombra
Sem escolha: muitas mulheres que têm seus bebês na prisão são obrigadas a entregá-los para abrigos depois de seis meses. É um drama invisível, uma espera cruel pelo dia da separação.
Os temas abordados na edição anterior foram muito estimulantes para o investimento em tecnologia da informação e comunicação.
Joseane Rocha,
https://www.educamundo.com.br
De projeto
…
Aguardando pelo próximo evento
Roberto
https://metodologiaagil.com